sexta-feira, 26 de maio de 2017

Atividade académica para celebrar dia de África

A África é o tema abordado no espaço cultural Tereru di Amizadi desta 5ª feira. O espaço atraiu dezenas de estudantes que, curiosos e atentos, estiveram presentes nesta edição para ouvir o convidado especial desta semana.
No âmbito da comemoração do dia da África, 25 de maio, quiseram abordar a situação económica, social e cultural africana como forma de dar a conhecer aos jovens estudantes o importante papel do continente para mundo e a sua situação atual.
A abordagem do tema ficou ao encargo do convidado especial Jorge Andrade que, numa conversa aberta e descontraída partilhou o seu conhecimento com os estudantes e também professores.
Segundo diz Jorge Andrade, é necessário que os jovens sejam dados a conhecer sobre a verdadeira história da África e “não permitir que a nossa cultura africana desapareça devido a nossa ignorância em relação ao nosso passado”.
Durante um pouco mais de duas horas, o convidado especial esteve a falar sobre as diversas formas através da qual “se mata” a cultura africana, todos os dias.


“Não conhecemos as seleções de futebol africanas; não sabemos os nomes dos jogadores africanos e nos envergonhamos da nossa cultura, sobrevalorizando sempre a cultura do branco”, demonstra Andrade.

Mostrando várias linhas de pensamento, Jorge Andrade convidou à todos os presentes a olharem para dentro de si e buscar conhecer a sua verdadeira origem.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Entrevista

 "Ficar longe de casa significa ficar longe de tudo o que nos dá confiança que necessitamos para viver o nosso dia a dia."

Em Cabo Verde, já é bastante comum, um grande número de estudantes universitários abandonarem o aconchego de seus lares para virem para a Praia, na busca de um futuro melhor, através dos estudos.
Com eles vêm muitas expectativas, na bagagem e no coração, que podem ser, a longo prazo, atingidas ou não. Segundo os seus relatos, as dificuldades enfrentadas são muitas, no entanto, encaram-nas com força de vontade e como um aprendizado.
Desta feita, Filipa Andrade é a minha entrevistada e vem contar-nos a sua experiência!
Maria Filipa Andrade- Natural da ilha do Fogo

Por que motivo/os resolveste vir estudar na Praia?
Resolvi vir estudar na cidade da Praia, porque queria fazer a minha licenciatura no jornalismo, e como na ilha do Fogo não existe universidade tinha que vir para cá.

Como é que ficou a relação com os teus pais e outros familiares quando vieste morar na cidade da Praia?
Quando eu terminei o 12º ano de escolaridade, o meu sonho era poder vir para cidade da praia, ter uma licenciatura e então decidi falar com os meus pais sobre isso, só que eles não tinham condições financeiras que poderiam me facilitar fazer isso, porque além de mim, tenho mais dois irmãos que estavam a estudar no ensino primário e secundário. Os meus pais me disseram que não iriam conseguir me ajudar, que além da propina, havia outras despensas e lugar para ficar, apesar disso, eu não desisti. Falei com a minha prima que mora aqui na cidade da Praia, e ela me disse que eu poderia vir ficar na casa dela e que eu podia procurar ajuda nas instituições que dão apoio com as propinas. Ela falou com os meus pais, e com isso eles decidiram deixar-me vir estudar na cidade da Praia.

Tiveste dificuldades de adaptação. Se sim, quais?
Nas primeiras semanas passei por muitas dificuldades, coisas que nunca imaginei passar, porque tive que morar com os familiares e a convivência não foi o que esperava encontrar. Tive dias de agustias, lagrimas, não consegui ter sucessos nos estudos por causa de desgosto, passei noites sem jantar, a mulher do meu primo não falava comigo e nem sequer cumprimentar e isso me incomodava muito. Tive que suportar tudo, e eu não dizia nada para os meus pais. Quando eles me perguntavam se já tinha comido eu dizia que sim, mas que na verdade era mentira, fazia isso para não lhes deixar preocupados, até chegar um dia de não aguentava mais, falei com eles e fui ficar com as minhas colegas, que hoje sou-lhes grata porque me acolheram no momento em que mais precisei.

Qual e a avaliação que fazes desta experiência?
Bem, primeiramente quando estamos numa Universidade só temos a ganhar, porque se abrem os horizontes, adquirem-se mais conhecimentos. Além disso, quando estamos noutra ilha, longe da nossa família, aprendemos a ser independentes, maduras, responsáveis, apreender a andar com os nossos próprios pés, conhecemos novas pessoas.
Também com isso aprendemos que temos que passar por dificuldades, sacrificar, para podemos conseguir o que queremos. Saber que na vida tem altos e baixos, que temos que aprender a valorizar, que para ter algo temos que cair e levantar.

Como te sentes em viver numa república?
Bem, praticamente não considero totalmente que estou a viver numa república, porque agimos como se fôssemos uma família. A casa é comum e convivemos como uma família; quando saimos para algum lugar avisamos para o outro, portanto, sinto-me bem, apesar de às vezes sentir aquela falta de casa, e da família, que não é igual a viver numa república.

Como é a tua relação com as tuas companheiras de casa?
Durante esses anos nunca tive nada a dizer sobre as minhas companheiras de casa, sempre nos demos bem, cada uma faz as suas tarefas sem desentendimento, quando precisamos de ajuda pedimos uns aos outros, portanto, temos um bom relacionamento, não tenho nada de mal a dizer.

Qual e a sensação de viver e estudar longe de casa e da família?
 Bem, estar longe de casa não significa apenas deixar o espaço físico em que vivemos... Quando se sai de casa, perde-se toda a segurança do lar, da família, dos amigos, da rotina e de todo um sistema a que estamos habituados. E, se o fazemos, é porque somos loucos ou então porque temos fortes motivos para o fazer. Ficar longe de casa significa ficar longe de tudo o que nos dá a confiança de que necessitamos para viver o nosso dia a dia.
  Assim, quando se parte para longe, parte-se com um objetivo, com motivações, com expectativas, criamos imagens, situações, idealizamos um sonho de vida, apesar de termos plena consciência de que não será fácil, mas temos de que ir procurar uma vida melhor.
É uma sensação de muita saudade, é sentir falta da sua casa, da família, a mão que antes me amparava nos momentos de dificuldade, agora não existe mais, pelo menos não do jeito que queria.
Mas deixemo-nos das coisas menos boas, se tudo isto é negativo, também tudo isto provoca em nós algo muito positivo, trata-se de um profundo trabalho de auto controlo, auto conhecimento; de aprendermos a estar a sós com o nosso eu, a refletir, a meditar e a ter muita, muita paciência.
Todas estas dificuldades nos levam a desbastar algumas das nossas arestas, coisa que nunca faríamos na proteção das nossas “casas”… de facto, temos que amadurecer-nos muito, aprender a ter calma, a respeitar o tempo e o espaço das pessoas – mesmo que muitas vezes não coincida ou que entre em choque com o nosso.

O que aprendeste?
Aprendemos muitas coisas longe de casa, desprotegidos, aprendemos outras formas de viver, de sentir, de pensar. e aprendemos principalmente a questionar, aprendemos a dar valor a coisas que antes punhámos de parte. e aprendemos a viver a solidão.
Portanto no fim das contas, é como se nascêssemos outra vez. Somos como crianças a descobrir o mundo que nos rodeia... Uns dias rimos com as surpresas, outros dias choramos com as quedas ou os medos... mas o que importa é que, aos poucos... vamos crescendo.

Por: Vadimila Borges











Apresentação de trabalhos académicos- superar os míticos medos


Os estudantes, sobretudo universitários, são das pessoas que mais tremem quando se fala da apresentação de trabalhos académicos. 


Friozinho na barriga, timidez, tontura, vontade de urinar, são alguns dos muitos mal-estar que se manifestam, instantes antes de começar a explanação de um trabalho.
No entanto, quando bem preparado e convicto da qualidade do seu trabalho, esses “sintomas” são somente sintomas e não interferem no seu bom desempenho na hora da apresentação.
Confira aqui, algumas dicas de como apresentar, com excelência, um trabalho académico!

Liberte-se da timidez
Quando bem investigado e  estudado o seu trabalho, não há motivos para tanta timidez em apresentar um trabalho. Lembre-se que você é o detentor do conhecimento que vai partilhar e tem que fazê-lo da melhor forma possível. Mentalize esta frase: o seu olhar não me intimida!

Não economize exemplos

Apresente os conceitos seguidos de exemplos, reais ou não. Eles são importantes na compreensão e na retenção do que está a ser apresentado. Torne os números significativos. Números não significam muito, a menos que sejam colocados em um contexto.


Use do bom humor, mas não abuse

O humor ajuda a descontrair e a despertar a atenção do público, sobretudo em apresentações com maior duração. Mas se não é acostumado a fazer humor no seu cotidiano, melhor não deixar para tentar isso em uma apresentação. Soa artificial e todos percebem.


Atente para a postura

Durante a apresentação, você não se comunica apenas verbalmente. Seus gestos, a entonação da sua voz e sua postura também fazem parte da comunicação. Nunca fique de costas para o público. Se tem tiques de nervosismo, tente controlá-los o máximo que puder.


Não aponte suas falhas

Nada mais aborrecido do que alguém que fica a desculpar-se o tempo inteiro. Muitas vezes, se o apresentador não chamasse a atenção para as falhas, elas passariam despercebidas.


Cuidado com os vícios de linguagem

São os famosos e clássicos “éééé”, “então”, “não é?” e “iii”  das apresentações. Geralmente são grunhidos emitidos enquanto o apresentador pensa. Vício de linguagem também é algo difícil de largar: você se policia para acabar com um e acaba por adquirir um novo. Por isso, a vigilância deve ser constante.


Demonstre entusiasmo

Lembre-se que seu público quer ser surpreendido, não cair de tédio. Da próxima vez que preparar uma apresentação, pense em como colocar sua personalidade nela. A maioria dos apresentadores entra em um “modo de apresentação” e procura tirar toda a emoção da fala. Não pode! Crie picos de interesse sempre que for oportuno.


Tente criar um momento inesquecível

Este é o momento na sua apresentação em que todos irão falar depois. Toda apresentação evolui para uma grande cena. Um clímax. Qual será o momento memorável da sua apresentação? Planeie esse momento previamente e evolua a sua apresentação até ele. Videos? Ilustrações animadas? Um convidado surpresa? Você decide!


Siga estas dicas e diga adeus às derrocadas nas apresentações de trabalhos académicos. Portanto, seja ousado, criativo e mostre que verdadeiramente domina o tema que vai apresentar.


terça-feira, 23 de maio de 2017

Corrida Universitária – correr atrás da saúde

No dia 6 de Junho do corrente ano, a universidade de Cabo Verde arranca para mais uma edição da “Corrida Universitária”.

A atividade é realizada anualmente e visa promover a prática do desporto e da atividade física no seio universitário.

Nesta disputa farão parte os alunos dos sexos masculino e feminino nas modalidades de 100 metros; 3000 metros para o feminino e 5000 metros para o masculino.

A corrida que é da iniciativa do gabinete do Serviço de Ação Social da Universidade de Cabo Verde em parceria com a Associação dos Estudantes de São Vicente, tem uma missão social que se traduz na arrecadação de alimentos não perecíveis, que serão revertidos aos estudantes mais vulneráveis desta academia.

Durante a corrida haverá sorteio de prémios atrativos, cuja parte da receita total será destinada aos estudantes mais desfavorecidos da universidade.

As inscrições encontram-se abertas a partir do dia 15 e estende-se até 31 deste mês. A preparação dos participantes será feita pelo docente Dionísio Cruz, no dia 26 de maio.


"A expectativa é que haja uma forte adesão dos estudante nesta atividade", garantia dada pelo gabinete do Serviço de Ação Social, responsável do evento. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Estágio- um palco de aprendizado

Evelise Carvalho- Licencianda em Jornalismo e amante da poesia
Comecei meu primeiro estágio aos 18 anos. Nessa altura, estava no primeiro ano do curso. Ingénua e cheia de fantasias quanto ao mundo do trabalho e sobretudo do jornalismo.

Iniciei o estágio no âmbito de uma formação intensiva de comunicação e jornalismo. Mas, o engraçado foi a forma como cheguei à formação.

Um dia, estávamos eu e duas das minhas colegas de turma, a falar sobre as nossas utopias de jornalismo e da vontade que tínhamos de conhecer os órgãos de comunicação nacional e saber como funcionam.

Entre uma ideia e outra, decidimos visitar pelo menos um órgão de comunicação por semana, por nossa conta própria. Começamos naquele mesmo dia. Saímos da universidade naquela mesma hora e começamos a explorar. Pensamos em alguns nomes: Record, Tiver, TCV, RPT. E decidimos ir à Tiver.

Mesmo sem saber onde ficava, saímos, a pé, do Palmarejo ao Tira Chapéu a perguntar onde é que ficava a Tiver. Alguém disse-nos que era em Terra Branca, e continuamos nosso trajecto, debaixo do sol ardente de maio. Como quem tem boca vai a Roma, perguntando e errando caminho, chegamos.

Fomos muito bem recebidas e convidadas a fazer uma formação intensiva em comunicação e jornalismo, que começava no dia seguinte. Tivemos de sair às pressas e ir pra casa buscar nossos documentos para fazermos a inscrição.

Foram 15 dias de muito trabalho, tínhamos de conciliar a formação e as aulas. No final da formação seriam escolhidos alguns dos formandos para fazer estágio. Eu fui uma das seleccionadas. E a partir desse momento, minhas fantasias começaram a cair por terra.
O estagiário é sempre “o estagiário”, a nova mina a ser explorada. Chegara, então, a hora de conhecer o mundo e as pessoas tal como são.

Os primeiros dias foram muito chatos. O estagiário tem sempre vontade de fazer, fazer e aprender, pelo menos eu tinha. Para minha desilusão, não havia muito o que fazer, não no início. Ou se calhar, eu não podia fazer determinadas coisas. Não sei se por ser desengraçada, magrizela ou por ter apenas 18 anos, como o diretor fazia questão de me lembrar. Estou a brincar. Mas, a grande verdade é que era insuportável não fazer nada. Senti-me inútil. Logo eu, que queria tanto aprender. E aprendi.

Aprendi que as pessoas cobram. Cobram sempre. Houve quem me quisesse ensinar. Mas, o preço a pagar era muito elevado e eu não podia pagar. Muitos pensam que o estagiário é propriedade para uso e descarte; a menina das águas e dos cafés ou até objeto de aventuras sexuais ou joguinhos de aliciação pós-expediente.

Aprendi, muito cedo, a reconhecer o meu valor. E por ter esta consciência e estar mais determinada a abrir os livros antes de qualquer outra coisa, decidi abandonar o estágio e voltar à universidade. Levei e levo esse choque de realidade, até hoje, como aprendizado. Esse foi mais um estágio de vida, do que de jornalismo.

Um ano mais tarde, fui outra vez chamada para fazer estágio no mesmo lugar. Aceitei. Sim aceitei. “Com a cabeça erguida e os olhos radiantes, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança”, como disse Shakespeare. Determinada a dar o melhor de mim, sempre. Como os estágios e a vida hão-de ser sempre palcos de aprendizado, estava pronta para aprender.

Desta vez, não aquela criança cheia de medo mas, uma quase mulher ciente de que é preciso enfrentar-se fantasmas e dificuldades e acima de tudo aceitar desafios. Não importando de que lado a vida conspira.
Sou rica, hoje, não em dinheiro. E nem podia ser, afinal não tenho salário. Contudo, aprecio muito o meu “aprendilário”.

O estagiário tem de, muitas vezes, ser candeeiro apagado e sombra no escuro. Tem de andar fora do tapete vermelho. Na rua deserta, com luzes apagadas. Tem de fingir não saber, nem ver ou ouvir. Um fingidor sincero. Um humilde apreendedor. A voz muda do corredor. O aprendiz que mesmo certo é errante. O estagiário é a mina pronta a ser explorada. Porém, digna. Conhecedor do seu valor. Mais amante do saber do que do reconhecimento.

O amigo do estagiário é a secretaria discreta, o porteiro sorridente, o condutor amável e a empregada de limpeza. Pessoas que hão-de sempre merecer o seu melhor “bom dia”, “boa tarde”, “como tem passado?”, “bom trabalho” e “bom fim de semana”.


Estou no terceiro ano e tenho 20 anos. Faço o meu 3º estágio, onde sempre quis estar. Num órgão de comunicação maior do que onde estava antes, no meio dos que sempre admirei. O fato de eu ter feito estágios desde cedo, não me fez melhor do que os meus colegas. Mas, me transformou no melhor que eu podia ser. 

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A Utopia da Qualidade do Ensino Superior em Cabo Verde

Cabo Verde começou a ter universidades num número mais expressivo no início do ano 2000. De lá para cá, tanta coisa mudou, inclusive a própria qualidade de ensino.

O ensino superior em Cabo Verde é muito jovem e por causa disso, as suas fragilidades ainda são várias. Os cursos que nos são disponibilizados são ainda reduzidos, conduzindo, deste modo, a uma pressão das profissões dentro do país. E quando assim é, o desemprego qualificado tende a aumentar.

É o que está a acontecer neste momento em relação ao curso de jornalismo, por exemplo. Todos os anos, as universidades lançam dezenas de jornalistas ao mercado de trabalho, quando, no entanto, não há espaço suficiente para colocar todas estas pessoas.

O que deveria ser feito, seria, portanto, fechar os cursos cuja profissão o mercado está saturado e incentivar os alunos a escolherem áreas que o país tem carência de profissionais e lhes seja possível encontrar emprego com mais facilidade.

Temos lacunas e dificuldades imensas no que tange ao nível de conhecimento com o qual os estudantes ingressam às universidades. Questão bastante visível é que uma boa parte dos estudantes universitários tem grandes complicações com a escrita e oralidade em Língua Portuguesa.

Levando em conta que o Ensino Superior exige bastante destas duas vertentes, pergunto: onde é que estará a falha? Nos ensinos primário e secundário, ou no próprio sistema de ensino que permite que alunos com graves problemas de comunicação acedam às universidades?

É necessário pensarmos nesta questão, pois, não é competência da universidade ensinar como é que se lê e se escreve. Aqui apenas se partilham conhecimentos e se formam profissionais.

Pensemos também na própria qualidade dos professores que nos são enviados para lecionar. Alguns com somente uma licenciatura feita, o que em muitos casos não garante muita coisa; e outros que sequer sabem comunicar com proficiência.

Da mesma forma que rigorosamente se deve selecionar os alunos que queiram estudar nas universidades, sejam elas públicas ou privadas, também, mediante uma forte peneiração, devem escolher os docentes decentes para ajudar-nos na construção do conhecimento.
Não bastam apenas curriculum e diploma. É preciso ter vocação para ensinar e saber vestir a camisola.


Somente quando houver um trabalho conjunto bem feito é que a qualidade no ensino superior poderá ser alcançada. Até lá, dormimos e acordamos com a utopia de ensino superior com qualidade em Cabo Verde. 
                                                                                                   Por: Vadimila Borges

terça-feira, 16 de maio de 2017

Sara Patrícia, a menina forte e meiga


Sara Patrícia é o rosto desta semana, na nossa seção de diáspora. Jovem universitária, guerreira e determinada, Sara é uma entre muitos cabo-verdianos que se aventurou pela diáspora à procura do cultivo de conhecimento e de novas experiências. 
Os desafios são enormes, segundo Sara, no entanto, desistir está fora de cogitação. Confira você mesmo o desenrolar deste relato! 


Meu nome é Sara Patrícia Furtado Monteiro, tenho 20 anos de idade, nacionalidade cabo-verdiana, natural da ilha de Santiago, cidade da Praia.

Falar da minha experiência universitária só me traz dor e ao mesmo tempo mais coragem para enfrentar o que me trouxe aqui.Sou estudante do 2º ano do curso de Informática na Universidade Portucalense no Porto (Portugal).

Em 20-09-2015 foi o dia que começou tudo; foi o dia que saí da casa dos meus pais, o dia que abandonei a minha terra natal com o objetivo de concretizar o meu maior sonho (de finalizar um curso superior).

O ano em que tive a obrigação de saber o que é ser uma dona de casa, de ser responsável pela minha própria gerência económica, de me adaptar à uma cidade onde não sei de nada e numa faculdade onde não conheço ninguém.

Recordo-me como se fosse hoje, o meu primeiro dia de aulas, como um peixe que estava fora de água: não compreendia mesmo nada, não só do que se tratava nas aulas como também da forma que falam (Português do Norte), mas isso nunca se constituiu em desespero para mim, mas sim mais motivação.

A minha maior dificuldade foi quando vim para Portugal e que descobri que a minha mãe tinha um tumor maligno. Esta sim foi a dificuldade que tive de enfrentar até hoje; de ser forte e de não misturar os problemas daqueles que me pertencem com a minha faculdade.

Foi difícil, mas hoje agradeço a Deus por ela estar livre, e ao mesmo tempo pela força que tive mesmo com esses problemas, para lutar e conseguir transitar-me de ano.
Ter independência não foi algo que me afetou muito, porque desde pequena tive ausência materna por muitos anos, portanto, viver sozinha não foi nenhum obstáculo com o qual me deparei.

Nunca fui mimada e quando cheguei aqui, a certeza que tive e tenho é que nada na vida se consegue com um piscar de olhos, como também, nada é impossível.
As pessoas que estão longe pensam que todos que saem do país para ter mais liberdade, poder ir às festas como e quando quiser e viver sozinha sem as chatices dos pais.

Isso é apenas uma ilusão. O que realmente enfrentamos aqui são: dificuldades de encontrar uma casa e não ter problemas com os vizinhos, problemas financeiros, racismo, entre outros.

Falar de racismo não me refiro somente da cor, mas sim de problemas que nós, estudantes africanos, sofremos principalmente no momento de escolher um par para fazer um trabalho de grupo na sala de aula, momento em que sempre ficamos prejudicados com as notas. Algo que nunca intendo.

A dificuldade de afastamento dos amigos não tive, porque a maioria veio comigo, porém, como a mãe diz, aqui cada um é por si e Deus por todos. Amigos aqui pode-se dizer que não existem, no entanto, há outros que agora considero como se fossem da minha família.

O mais falado entre esses tópicos: a influência. Para mim esta palavra não existe e nunca existiu. Quem tem os seus próprios valores a influência nunca será um obstáculo a ultrapassar.

E para concluir, espero ter sido clara na abordagem da minha experiência e poder transmitir motivações e esforços para a concretização dos nossos objetivos.



sexta-feira, 12 de maio de 2017

A Depressão Juvenil- o contexto universitário


A depressão é uma das sérias patologias mental que afeta um grande número de pessoas a nível mundial, sobretudo nesta nova era digital, onde existe uma forte pressão das novas tecnologias que invadem o interior das pessoas, conduzindo à um profundo sentimento de vazio e uma necessidade mórbida de estar sozinho, restando somente a companhia de dispositivos eletrónicos, o que em muitos casos pode constituir-se nos primeiros sintomas desta doença.

 


 Várias são as causas da depressão, que em muitas circunstâncias não variam consoante a faixa etária. Em jovens universitários faz-se urgente conhecer os motivos da depressão e traçar estratégias que sejam suficientemente capazes de dar vazão a este mal psicológico e também social.

Sobre a depressão

A depressão refere-se a uma doença caracterizada pela presença de uma alteração do humor persistente e suficientemente grave para ser considerada uma “perturbação”. Geralmente ela pode ser desencadeada por um conjunto de motivações, de diversas ordens, que acaba por conduzir as pessoas para o abismo emocional.

A camada jovem, mais concretamente os estudantes universitários, também estão expostos à esta doença, que a par do vírus da SIDA e dos acidentes rodoviários, é uma das maiores causas de morte na faixa etária compreendida entre os 10-19 anos, de acordo com um relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), em maio de 2014.

Embora pareça ser algo insignificante, passageiro ou meramente uma fase, a depressão assume contornos mais profundos e de impactos preocupantes que podem se agravar caso não for diagnosticado a tempo. 

Porque os sinais que dão são confundidos com alterações de comportamento comuns nessa fase, a família várias vezes não está suficientemente sensível à estas mudanças e com reduzida capacidade de detectar que o jovem possa estar a desencadear um quadro depressivo.

Atualmente, é possível identificar a doença por meio de marcadores biológicos encontrados no sangue graças a descoberta de um exame capaz de diagnosticar a depressão que foi anunciada em setembro de 2014 por um grupo de pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos.



Sintomas
Como fora citado anteriormente, a depressão é anunciada por uma série de motivações e de natureza variada. No entanto, especialistas esclarecem que é preciso considerar a intensidade e a frequência desses sinais e analisá-los dentro de um contexto mais amplo, avaliando o estado geral do jovem. Dentre muitos sobressãem as seguintes:

1 - Humor depressivo
O adolescente parece não sentir alegria ou prazer de viver. Mostra-se melancólico, entediado, indisposto e sem esperança. Tem baixa autoestima e pode apresentar crises de choro sem razão aparente.

2 – Apatia
Às vezes, é confundida com preguiça. O adolescente demonstra falta de energia, cansaço frequente e perda de interesse por atividades que antes eram prazerosas.

3 - Isolamento social
Os adolescentes deprimidos tendem a se isolar de amigos e familiares.

4 - Irritabilidade e instabilidade
Mau humor, descontrole emocional e explosões de raiva podem fazer parte do quadro depressivo.

5 - Alteração do ritmo de sono
O adolescente pode dormir mais ou menos do que de costume. Também são comuns episódios de insónia.

6 - Alteração no apetite
Perder a vontade de comer é o mais frequente, mas pode haver, também, aumento de apetite, sobretudo por alimentos doces. Perda ou ganho de peso significativo em pouco tempo podem estar associados.

7 - Dificuldade de concentração
Frequentemente está associada à queda no rendimento escolar. Em alguns casos, o jovem depressivo abandona os estudos.

8- Pensamentos suicidas
São comuns ideias mórbidas e tentativas de suicídio.

Aquilo que foi o interesse em estudar este mote, buscou-se analisar e compreender o que é que motiva o desencadeamento da depressão em jovens universitários.

Segundo Odete Mota, enfermeira com especialidade em saúde mental e docente na Universidade de Cabo Verde, “ as razões da depressão em jovens que estão na universidade, são enormes, começando pelo facto de estarem em transição de uma fase para outra, isto é, a saída do liceu para entrada no ensino superior”.

Desta “não adaptação” às exigências que a universidade impõe, muitos destes jovens universitários acabam por sofrer frustrações e stress que se não forem cuidado, conduzem à depressão.  

Não obstante, outras causas são passíveis de analisar, tais como a saída da casa dos pais para estudar em outro lugar; a responsabilidade em assumir a própria vida e fazer a gestão dos seus assuntos, longe dos familiares e da casa.  

“Por exemplo, os que vêm das outras ilhas, são confrontados com a mudança brusca de um espaço para outro, o que faz com que a adaptação se torne mais difícil e mais dolorosa.”- exemplifica Odete.

É importante realçar que os perfis destes jovens são diferentes, pois, é preciso observar a depressão em jovens que acabam de ingressar às universidades e aqueles que estão já de malas feitas para o mercado de trabalho. Nestes últimos, as causas variam.

Os jovens universitários que estão na reta final do curso, enfrentam outro tipo de frustrações, stress e ansiedade. Contrariamente aos que estão na fase inicial, esta camada lida com preocupações que, na perspetiva da Odete Mota, são motivadas pela forte concorrência existente no mercado de trabalho e pela vontade de firmar-se independente perante a sociedade e a família. “ Querem dar uma resposta efetiva para terem uma resposta melhor a médio e longo prazo quando entrarem no mercado laboral”.

Impactos

A partir do anúncio dos primeiros sintomas, os jovens já começam por sofrer os efeitos desta doença, refletidos no insucesso escolar, na vontade de isolar-se e perder amigos, no fraco desempenho das atividades que antes eram realizadas com gosto.

O suicídio pode ser a consequência mais grave de um quadro depressivo não tratado adequadamente, mas não é a única. A depressão na infância e na adolescência é duradoura e afeta múltiplas funções, causando significativos danos psicossociais.


Medidas de prevenção
De acordo com as declarações da enfermeira Odete Mota, “muito além de tentar solucionar o problema, vale mais apostar em medidas preventivas” capazes de fazer face à esta problemática psicossocial.

De uma pluralidade de medidas anunciadas, algumas como a prática de exercícios físicos de forma regular, sono reparador, alimentação com qualidade, são de extrema importância. Salientar também que o cultivo de boas práticas para a elevação da autoestima e a construção de uma forte personalidade são chamadas enquanto medidas para prevenir a depressão.  

O tratamento da depressão na adolescência é, em geral, multidisciplinar. As melhores opções de conduta associam o uso de antidepressivos, receitados por um psiquiatra, com apoio psicoterápico e acompanhamento à família.
Porém, nem todos os casos requerem medicação, mas é fundamental o envolvimento dos familiares.


Na Universidade de Cabo Verde, existe um Gabinete de Orientação Psico-pedagógica do Estudante (GOPE) que desde a sua criação- em 2015 já ajudou muitos jovens universitários que apresentaram um quadro depressivo forte, através do fornecimento de consultas e conversas com um médico psicólogo que presta serviços ao gabinete todas as terças-feiras de manhã.

Ainda que as preocupações sejam várias e as angústias imensas, o jovem universitário deve apostar num forte autoincentivo a fim de saber lidar com as dificuldades e driblar a grande vilã:  a depressão. 



Por: Vadimila Borges

Fotos de atividades relevantes para a comunidade académica universitária. Diversos tipos de eventos.