quinta-feira, 5 de abril de 2018

Mercado de trabalho- “a madrasta má” dos Recém-licenciados

Vadimila Borges
Licencianda em jornalismo

Quando se termina os estudos secundários, levamos connosco a satisfação de trabalho feito e no rosto o sorriso de estar em condições de ingressar no ensino superior. Porém, quando terminamos a licenciatura, invade-nos um medo, que as próprias palavras não conseguem descrever exatamente.

É uma mistura de medo, desafio invisível e um frio na barriga só de imaginar o que nos aguarda o mundo laboral: “a madrasta má”. É como que caminhar por um túnel escuro, andando aos sobressaltos e com medo de encontrar ratos pelo caminho.

Não é fácil, nestes dias que correm, ser otimista com o cenário no qual vivemos atualmente: uma gorda estatística de desemprego jovem, inclusive de jovens com licenciatura.
Se antes, a conclusão do ensino secundário era uma garantia de emprego, hoje os ventos são outros, tanto que nem uma licenciatura vale o esforço de quatro anos de curso e muito menos a certeza de que já se tem um lugar garantido no mercado de trabalho.

Terminamos o curso com a sensação de incerteza e um pouco desacreditados. São nestas horas que parámos para refletir se fizemos uma escolha inteligente. E perguntamos a nós mesmos se neste mundo vasto há espaço para mais um que,
nos pés de graúdos, é ainda um bebé que sequer saiu das fraldas?

O que é bem visível, e não adianta fingir cegueira temporária, é que em Cabo Verde, em todas as profissões, existem funcionários com tempo de trabalho cessado, por idade ou pelo tempo de serviço, que ainda não foram (ou não querem ir) para a reforma para dar espaço aos mais novos, com vontade e energia de inovar.

É certo que cada um sempre vai “puxar a brasa para a sua sardinha” e eu não podia ser diferente e tampouco aqueles que já têm uma vida e carreira feita. Assim sendo, pergunto: o que é feito de nós, jovens recém-licenciados? O nosso esforço não significa nada? O nosso diploma é somente um papel?

As entidades empregadoras preferem trabalhar sobretudo com gente que já tem alguma experiência, mínimo de três anos. Compreendo. Mas, se ninguém está disposto a dar uma e primeira oportunidade, como é que nós podemos ganhar experiência?  Não me parece que seja lá em casa. É errando que se aprende e se progride como bom profissional. Com uma boa lapidação, todo diamante bruto pode se transformar numa linda joia.

É ainda bom lembrar que aqueles que hoje têm orgulhosamente trinta anos de carreira profissional, um dia já foram jovens, já tiveram insegurança e cometeram muitas gafes durante o percurso. Começaram de algum lugar. Tudo começou com uma oportunidade. E é por esta oportunidade que estamos a batalhar. Não nos fechem as portas sem ao menos nos terem dado uma chance de provar que valemos.

Se ninguém quiser nos empregar, há um plano B: ser empreendedor! O empreendedorismo é agora uma das nossas fugas. Para fugir às responsabilidades, tentaram convencer a juventude de que apostar no empreendedorismo é um ato de bravura, coragem… ladainha. O próprio ambiente económico do país não facilita o “novo empresário”, sobretudo na dificuldade de acesso ao crédito para iniciar um negócio. Entretanto, o bom senso aconselha levar esta opção em conta.

O mercado de trabalho se transforma em algo assustador, injusto e mau aos nossos olhos. Porém, se tudo for muito bem organizado, planeado e justo, os jovens, licenciados ou não, poderão ter acesso ao emprego, via disputa e competitividade, onde o rigor, a excelência e a inovação sejam os principais critérios que o mercado de trabalho vai exigir aos profissionais.
De outro modo, duas mil e dezoito (2018) toneladas de otimismo não vão ser o melhor remédio. Oxalá o cenário mude. E que seja para melhor!

Sem comentários:

Enviar um comentário

Fotos de atividades relevantes para a comunidade académica universitária. Diversos tipos de eventos.