segunda-feira, 8 de maio de 2017

Sara, a blogueira das crespas

A secção diáspora desta semana, põe em destaque uma jovem universitária bastante conhecida pelas suas publicações nas redes sociais. 
Faz faculdade de enfermagem no Brasil e é uma defensora da cultura afro. Representa, entre muitos estudantes cabo-verdianos na diáspora, um caso de sucesso nos estudos e a nível pessoal. 
Conheça a história de Sara Martins! 


"Si ka badu ka ta biradu": uma aventura longe de casa

A vida de quem inventa de estudar fora é amanhecer tendo a certeza que se está no lugar certo e, dormir com vontade de estar no colo dos pais. Isso nunca deixará de ser diferente!

Lembro-me claramente de quando fui selecionada para cursar fora, naquele dia, naquele momento, fui invadida por diversos sentimentos, era medo de sair das “asas” dos pais e a certeza/garantia de um ensino no exterior e muito mais do que isso, a certeza de uma oportunidade de voar, ir além da fronteira, além do que os meus olhos podiam ver.

Ainda lembro do último olhar dos meus pais, das lágrimas e da despedida, do carinho e da incerteza de quando irei voltar e sentir o cheirinho de casa, o abraço da mamãe e do papai, da mana e do mano. Mas achas que isso me fez desistir?! NÃO! O sonho ainda falava mais alto.

Chegando aqui, no Brasil, tudo era diferente, a língua, a comida e inclusive os amigos, era tudo novo, tudo estranho. Mas a vontade de vencer ainda falava mais alto, a vontade de voltar para a casa com o tão famoso DIPLOMA DO ENSINO SUPERIOR.

Agora eu sou adulta, tenho responsabilidades, contas para pagar e tenho que cuidar de mim. E quando eu ficava doente? Ah, agora é “eu por mim”, a sopinha quentinha da mamãe nos dias de gripe se tornaram em miojo, ou conhecida como “sopa koka” em Cabo Verde. Tinha que acordar cedo, sem a voz do meu papai me avisando que estava atrasada. E o café prontinho na mesa, isso foi substituído por fast foods a caminho da universidade.

Mas apesar de toda a responsabilidade que fui obrigada a adquirir, de todos os choros e desânimos o sonho continuava aceso, a cada noite de fraqueza vinham seguidas de manhãs de força.

Toda a manhã levanto-me e, como dizem os brasileiros, vou “sacodir a poeira e, dar a volta por cima”. E como todas as noites, eu durmo com a certeza que deveria estar em casa, mas acordo com a vontade de lutar e vencer. 

Então eu digo-te, ouse, abuse, ultrapasse a linha vermelha. Estudar no exterior é “matar um leão por dia”, mas no final, a sua luta valerá a pena.

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