sexta-feira, 21 de abril de 2017

Navvab Aly Danso_ Finalista de Curso Relações Internacionais

Esta secção vem dar a conhecer os casos de sucessos, angústias, dificuldades e aprendizados que os estudantes universitários enfrentam no país que os acolhe, durante uma estadia que pode ficar marcada por histórias, de sucesso e de fracasso. 
Desta feita, trouxe para este espaço a visão de uma jovem universitária que simboliza, entre vários outros estudantes, um caso de sucesso e orgulho para Cabo Verde. Dispensam-se apresentações! Conheça você mesmo!

O meu nome é Navvab Aly, tenho 20 anos, nasci em Santo Antão e cresci em Santiago, mais concretamente na cidade da Praia (Cabo Verde). Sou finalista no curso de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra. 

2014 Foi um ano decisivo para mim, terminei o ensino secundário no Liceu Domingos Ramos e já estava a tratar de tudo o que era necessário em termos burocráticos para candidatar às vagas oferecidas pela Direcção Geral de Ensino Superior.
 Relações Internacionais foi a minha opção número 1. Coimbra era a minha cidade de sonhos, queria muito vir para cá e fazer parte desta cidade cheia de encantos e bastante famosa devido à tradição académica em si. Foi aqui que nasceu tudo, toda a tradição que depois expandiu pelos diversos cantos deste país e pelas diversas cidades Universitárias Portuguesas, não poderia ser melhor. Quando consegui a vaga foi meio que um sonho a se tornar realidade, foram misturas de sensações e vários mas, vários medos.
Quando eu cheguei aqui não sabia bem o que iria acontecer. é sempre mau, no início, sair da nossa zona de conforto, da nossa casa e ao pé da nossa família e dos nossos amigos. É sempre duro mas uma pessoa vai se habituando. Eu vi várias pessoas desistirem durante estes meus 3 anos, falo de pessoas de outras nacionalidades que chegam cá e não se habituam e metem nas suas cabeças que nunca se vão habituar. Acontece de tudo, há pessoas e pessoas com suas capacidades e seus gostos e não podem nunca julgar.

As minhas dificuldades foram e são muitas, não é nada fácil tirar um peixe de um aquário e meter noutro à espera que ele conviva e habitue super rápido com os novos "amigos", para mim foi complicado aceitar que tinha mesmo que viver aquele momento e aceitar que era necessário fazer novos amigos e mudar o estilo de vida. Ora, nada é impossível fiz, faço e continuo a fazer amigos e esta é uma das maiores vantagens de vir estudar fora, conhecemos inúmeras pessoas de diferentes sítios e com culturas incríveis! Eu me considero uma pessoa rica cada vez que aprendo mais coisas sobre outros Países, mesmo que seja um simples hábito ou uma simples crença de um povo!
É uma vida completamente diferente daquela que temos na casa dos nossos pais pelo simples e grande motivo de que agora somos nós os responsáveis pelos nossos atos e tudo mais...Se eu não cozinhar não chego a casa e encontro a comida feita, se eu não limpar não há quem limpe por mim e se eu não tratar das coisas, pagar as contas e resolver certos assuntos ninguém o fará por mim. É muita pressão no início mas acaba por ser extremamente necessário a meu ver, eu não acho que ganharia a maturidade e a responsabilidade de ganhei aqui nestes últimos 3 anos se eu tivesse ficado em Cabo Verde na casa dos meus pais.

Acredito que a independência não se baseia em sair para festas e não ter hora para voltar (o que muitos têm em mente quando chegam aqui) mas sim, no saber quando sair, quando estudar, como equilibrar o sair e o estudar, como resolver certos assuntos e como priorizar certas coisas que são primordiais para o nosso futuro.
Vejo pessoal que chega aqui, recebe o dinheiro do esforço dos pais e nunca faz nenhum esforço para fazer as cadeiras, passar de ano, realizar pequenas coisas que vão contribuindo para a construção do nosso futuro. É triste ver jovens com oportunidades e sem a noção da importância destas mesmas oportunidades. 

As minhas angústias acho que acabam por ser angústias de todos os que decidem lutar pelo seu futuro fora do País de origem e longe do conforto, eu não soube lidar bem com a falta que a minha família me fazia no início. Hoje estou bem com a situação, sempre que posso vou para Cabo Verde mas é complicado para qualquer um. Perdemos datas importantes, momentos importantes e coisas importantes por estarmos aqui. A minha maior dificuldade foi com a certeza absoluta suportar a dor da perda do meu avô e não poder fazer nada para alterar a situação e nem poder estar lá porque foi mesmo numa época decisiva do meu segundo ano de curso. São coisas que acontecem com todos e a única solução é ser forte e ter muita fé.

Se tudo correr bem (acredito que irá) eu termino a minha licenciatura em Junho, falta muito pouco e a ansiedade é enorme!!! Não pretendo voltar para Cabo Verde por agora para trabalhar ou seja o que for porque tenciono fazer o Mestrado e eventualmente um Doutoramento. Para mim é importante voltarmos para a nossa terra e dar o nosso contributo quando estivermos preparados e não ser cabeças da lista de fuga de cérebros que sabemos que é enorme em Cabo Verde!!

É importante ter coragem, fé e batalhar sem medir esforços pelos nossos sonhos. Nada é impossível quando somos seres com mentes abertas.

Saudações académicas.


4 comentários:

  1. Oh,minha menininha code, Puntcha,as lágrimas continuam a correr ao ler este artigo. Estamos orgulhosos de ti a agradecemos a Deus o Tudo Poderoso que fez simplesmente tudo está obra. É mais uma demonstração da Mão do Nosso Criador.......sem Ele, nada disso teria acontecido. Apesar de estar longe da família biológica, Deus te colocou nas mãos de famílias espirituais que transcende qualquer coisa terrena.A essas pessoas maravilhosas a nossa gratidão eterna. Deus nos criou na Sua Imagem - com os Seus Atributos Divinos - poder, amor, conhecimento, compaixão, sabedoria, etc. Quem souber aproveitar, sempre terá sucesso. És exemplo vivo de uma batalhadora,nos momentos críticos sem esperança, nasceu uma forte fé e coragem. .....continues assim e se Deus quiser, alcançarás todas as netas e objectivos. Inchallah. Papi,Mami,e Dutchi.

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